quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Covers

Desde 2008 canto covers. Aliás, este termo, cover, não é muito comum no meio dos barzinhos, no meio da galera que toca MPB na noite. É mais utilizado no meio do rock (“banda cover de Black Sabbath”). Mas é isso o que faço desde 2008: canto covers. Canto músicas que todos conhecem – em barzinhos, casas de show, praças, eventos fechados.
Gostei muito de ser intérprete de canções famosas, pois nunca havia feito isso como cantora solo. Tinha uma banda de canções autorais, antes. Então foi algo bem diferente para mim. Achei delicioso cantar canções de Tom e Vinícius, Toquinho, Caetano, Erasmo Carlos... Em minha banda poucas vezes cantei músicas conhecidas (lembro de “Mulheres de Atenas”, do Chico, e de “Eu”, do Frank Jorge. Ah, e “O reggae”, da Legião Urbana, em um show em homenagem à banda).
Mas, como já mencionei aqui neste blog, no finalzinho de 2011 comecei a querer de verdade gravar um CD, exatamente para poder cantar músicas inéditas, de compositores novos. Sempre considerei ter bom gosto para o meu repertório. Pensei que seria ótimo escolher 10 canções de colegas meus (tenho amigos talentosíssimos - orgulho total!). Aí aconteceu uma coisa: comecei a ter mais vontade de cantar estas inéditas do que os covers. Apesar de ser algo ligeiramente mais difícil de realizar – a receptividade para canções inéditas costuma ser fria em um show, e, além disso, é preciso ensaiar para executar canções inéditas; não basta dar o tom para os instrumentistas, como se faz comumente no caso de covers, pois nenhum deles conhece aquela canção –, vi que meu objetivo realmente não podia ser outro. Mostrar músicas inéditas para o público. Me sentia (e sinto) muito mais realizada.   
Fechei o repertório do meu CD e, é claro, comecei a querer inseri-lo nos shows que fazia. E sentia certa frustração caso não conseguisse ensaiar com a banda, o que impossibilitava a apresentação destas inéditas. Ou caso sentisse que o público de um local não estava aberto a novidades (sabe quando você sente aquele clima "Coisinha do pai" no ar? Então...). Mas ao mesmo tempo entendia que, realmente, enquanto eu cantasse em bares e locais onde o público está acostumado a ouvir canções famosas, seria mais difícil colocar esta minha vontade em prática (mas não deixava de ficar um pouco frustrada). Certa vez, no Mike's Haus Imbiss, em Santa Teresa, anunciei que ia cantar uma canção inédita, e então uma moça disse: "Mas a música é boa?". Chato, mas compreensível. É o medo de ouvir algo ruim. Querendo poupar os ouvidos, as pessoas acabam agindo assim, tendo essa resistência ao novo. 
(A canção em questão, aliás, era "Samba do pé", uma das que mais amo cantar. Curiosamente, certa vez, na praça São Salvador, esta foi a música mais aplaudida do show todo - fato percebido por todos da banda e pelo produtor. Música boa às vezes também pode ter este poder de conquistar à primeira audição.) 
Estou escrevendo este texto porque dia 9 de novembro, sábado próximo, farei um show no Fixos Fluxos, na Lapa. Serão 2 sets de 45 minutos, com apenas 4 canções do CD - as outras serão covers. Noel Rosa, Monsueto, Gilberto Gil, Pepeu Gomes, Chico Buarque, entre outros. Ensaiamos na terça-feira o show, foi lindo. Mas a ideia é que esta seja a última vez que faço um show neste molde: 2 sets, Lapa, noite, basicamente covers. Estou considerando esta uma despedida deste tipo de apresentação, que já fiz tantas vezes. Foram 2 anos quase ininterruptos em um mesmo bar nos arcos da Lapa (show fixo, uma vez por semana), entremeados por outros shows, em outros lugares (Semente, praça Paris e praça São Salvador, Mike's Haus Imbiss), sempre no mesmo molde. Também já escrevi aqui que aprendi muito com estes shows. Mas uma das coisas que aprendi é que, de fato, sinto mais prazer cantando músicas inéditas, de um repertório que eu montei, escolhi a dedo, para descrever aquilo que amo, que sou. Meu repertório, acredito, me traduz. Fala muito sobre quem sou. O repertório de covers também diz muito sobre mim, é verdade (afinal, só escolho músicas que gosto), mas de uma forma diferente, se adaptando também à vontade do público. Não posso cantar "Manera, fru fru, manera" em um show em barzinho, por exemplo. Vão achar que pirei. 
Amo cantar músicas consagradas. E tenho muita vontade de fazer shows / CDs / projetos temáticos. Um show em homenagem ao forró, com direito a Dominguinhos, Gonzagão, Nando Cordel e outros. Um CD só com rocks brasileiros, conhecidíssimos. Um show em homenagem ao Itamar Assumpção. Muita vontade de fazer este tipo de coisa, pois esta ideia me diverte muito. Imagina? Um projeto só de canções do Belchior. Seria lindo. Mas esta ideia é bem diferente de um show de covers. Arranjos diferentes, todas as canções de um mesmo compositor. Podendo ousar livremente.
Faço vez ou outra shows fechados (em residências, festas de empresas), e posso afirmar que gosto muito de fazer isso. O ambiente é muito tranquilo e o pagamento é justo. Nestes casos, é incrível: canto todas as canções "manjadas" com prazer. Acho que isso acontece porque, neste caso, parece fazer sentido. Tudo muda de figura. Estão me pagando bem para cantar sucessos da MPB. Às vezes até pedem músicas antecipadamente. Estudo as canções, ensaio e vou. Tudo certo. Tudo perfeito. Adoro trabalhar assim. E estou sempre torcendo para que eventos deste tipo aconteçam. Me sinto valorizada e feliz.
Também adoro cantar em festas juninas. Só forró (um dos meus estilos preferidos)! É a mesma coisa: recebo um pagamento justo para cantar músicas que amo. Me divirto, vou a várias festas para divulgar a cultura do Nordeste. Para mim, faz todo o sentido também. Always a pleasure. Vou sorrindo.
Como disse, o ensaio para este show foi ótimo, e o show não será diferente. Estou muito bem acompanhada ao lado de Caio Márcio, Josias Pedrosa e Renato Endrigo, cheios de bossa e dinâmica. Além disso, vou aproveitar a ocasião para confraternizar, rever amigos que me cobram um show há tempos. Quero fechar com chave de ouro esta minha fase - e poder iniciar outra. Bem mais difícil, mas certamente incrível.  

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