Hoje
em dia canto MPB. Mas quando comecei a cantar, aos 16 anos, cantava
rock. Minha primeira banda, e minha segunda também, eram bandas de
rock. Amava Blind Melon (a preferida), R.E.M., Stone Temple Pilots,
Smashing Pumpkins, Blur, Oasis. Ah, não posso esquecer do primeiro
CD do Rush! Era do meu irmão, mas eu ouvia o tempo todo. Eu adorava
outros tipos de música, também (Shakira, JORGE BEN – que
teve o
último post
deste
blog
dedicado a ele –, Jon Secada, Paralamas...). Mas o rock
internacional imperava. Eu simplesmente amava rock, e tinha um estilo
de vida bem de acordo com isso: usava camiseta de
bandas (a do Led Zeppelin era a favorita), adorava conhecer outros
roqueiros, comprava o máximo de revistas nacionais e internacionais
sobre o assunto... Respirava rock and roll.
Já
falei que era roqueira algumas vezes aqui neste blog, mas hoje repito
para falar sobre outra coisa. É que há tempos, em um bate papo com um amigo, este me disse que seria incrível se pudéssemos viver várias
vidas em uma; se pudéssemos viver em vários tribos, mudar à
vontade.
“Como você, por exemplo”, ele disse, “que fazia rock e hoje
faz MPB”. E ele discorreu sobre a maravilha que seria se nos
permitíssemos fazer o que bem entendêssemos, como se fôssemos
várias pessoas em uma só –
sem
nos preocuparmos com a opinião dos outros.
Que grande verdade – seria incrível agirmos assim, sem nos
prendermos a estereótipos e sem nos sentirmos presos a algum
padrão.
Infelizmente
o fato de eu ter me tornado intérprete de MPB foi visto como uma
“virada
de
casaca”; um motivo de vergonha, para
algumas pessoas.
Certa vez encontrei um conhecido, que também tocava em uma
banda, e contei que estava cantando MPB. Aí ele não resistiu: “Ah,
um banquinho e um violão, sei como é...”, falando de forma
pejorativa. Este veneno me deixou ligeiramente chateada na
hora, porque foi frustrante perceber que
eu estava
sendo julgada em minhas opções e que alguém estava se sentindo de
certa forma ofendido com os caminhos que eu havia escolhido.
Mas,
voltando, a questão de viver várias vidas é genial. Podemos
utilizar esta filosofia de liberdade da melhor forma possível:
experimentando coisas interessantes e nos dando a liberdade de
conhecermos universos diferentes daqueles que conhecíamos até
então. E agora penso: que privilégio! Vivi intensamente o rock, e
agora vivo intensamente a MPB. Pois,
com esta mudança de preferência musical, veio a reboque também um
novo estilo de vida: novas pessoas, novos amigos, novos ambientes.
Quem
sabe o que viverei amanhã? Escuto e aprecio muito outros tipos
de música
– africana, francesa, latina –, e o mundo está cheio de
novidades a cada dia. Poderei escolher ainda muitas vidas, no que
depender de mim.
Costumo
dizer que o rock fica “entranhado” em nós, que crescemos ouvindo
este gênero. Até hoje componho melodias que vejo que têm uma
musicalidade própria do rock, uma cara mais alternativa, menos
brasileira. Percebo que minhas atitudes/visões têm muito a ver com
esta minha formação musical. Meu primeiro contato com a música foi
este, então não é algo pequeno nem é algo que se vá deixar para
lá assim, do nada. Mesmo que hoje eu quase não escute rock, acho
(na verdade tenho certeza) que esta influência é marcante, e talvez
nunca vá embora. E reconheço isso, mas ainda não senti vontade de
voltar a cantar rock – acho que em algum momento isso irá voltar
em meu trabalho; acho que esta influência ainda terá seu espaço em
algum CD meu... Mas são apenas suposições, e nem consigo
imaginar
agora
como isso poderá acontecer.
A
questão é que as portas estão abertas. Lembro que ainda na época
do Pic-Nic (minha segunda banda) eu já falava isso, sentia isso: não
quero me prender. Uma vez, em 2005, no programa Atitude.com, eu disse
ao Léo Almeida: “Ok, quem gosta da banda pode tentar classificá-la
à vontade... Só não pode ficar chateado conosco caso decidamos
mudar nosso estilo!”. Léo riu e perguntou se iríamos tocar um
pagode ou algo do tipo – se a banda não tivesse acabado, não
duvido que isso pudesse vir a acontecer, afinal adorávamos fazer o
que desse na telha.
E
quais as possibilidades que ainda aparecerão e que exigirão de mim
uma cabeça bem aberta e sem preconceitos? Espero que muitas.
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