segunda-feira, 6 de junho de 2016

Temperos pra vida

Engraçado. Nunca escrevi aqui no blog sobre como foi lançar meu primeiro CD. Nunca escrevi em lugar nenhum, aliás; nunca falei detalhadamente sobre o assunto. Acho que rolou uma ressaca (boa) tão grande em decorrência do lançamento que fiquei meio inebriada durante um tempinho, e daí o tempo passou e acabei não retomando o tópico. 
Estou agora ouvindo o CD, pois fui passar o link do YouTube para uma colega musicista e, sem perceber, deixei o som rolando. Fazia um tempo que não ouvia meu CD, e me peguei curtindo o som, como se fosse uma ouvinte, apenas. Que interessante! Interessante também foi relembrar como me senti ouvindo o CD físico pela primeira vez, no dia seguinte ao show, colocando-o no toca-CDs com certo medo. Porque acontece que o CD chegou exatamente no dia do show de lançamento – foi duplamente especial este dia, mas não recomendo a adrenalina! –, e eu não havia feito o test drive no bichinho. Foram cem CDs vendidos no lançamento (iêba!), mas eu ainda não sabia se a fábrica tinha dado mancada ou não, vixe! Que alívio ouvi-lo, e que felicidade senti ao colocá-lo em meu guarda-CDs e ver sua lombada ao lado de outros discos que adoro, muito bem acompanhado.
Acho importante escrever isso agora. Não porque eu queira supervalorizar este empreendimento, mas exatamente porque sei que às vezes tenho uma atitude de deixar para trás o que já foi feito, às vezes até subestimando meus feitos, e pensando apenas no que está por vir. É importante lembrar o quanto fazer este CD mudou minha vida. Me tornei uma pessoa muito mais caprichosa, exigente com meu trabalho. Eu, que já havia desistido há tempos de fazer um disco, vi que isso era possível. E, apesar de alguns percalços, fui até o fim. O processo foi lindo, e esta é a melhor parte. Quando o processo é bom, o final importa bem menos, pois já se está no lucro desde o início. Já se o processo for ruim... Acho importante repensar, porque a cobrança interna pelo resultado final será enorme, e provavelmente haverá frustração.
E o que eu notei nas tardes, noites e algumas manhãs que fiquei no estúdio com o produtor acompanhando as gravações ou gravando, pensando arranjos, formações, conversando e tendo ideias, foi que estava acontecendo ali um crescente amadurecimento meu como profissional. E isso só se deu porque resolvi me juntar a pessoas focadas, contagiando-me com aquela forma de pensar trabalho, aquela entrega típica de quem ama e respeita o que faz.
Bem, e no dia 16/07/2014, quando meus vizinhos-santos chegaram no  Teatro Sérgio Porto carregando duas caixas de CDs (a entrega foi feita em minha casa e eles quebraram este galho gigantesco), onde eu já estava desde as 14h passando som, foi incrível entender que realmente aquilo tinha acontecido. Não chorei, não dei gritinhos – acho que estava muito pé no chão e concentrada demais para aquele show, que também exigiu uma bela produção –, mas a felicidade foi grande em abri-lo, vê-lo ali, no duro, o primogênito.
Nos dias seguintes fiquei curtindo as pessoas falando sobre o show, sobre o CD, e foi uma delícia saber que tantas pessoas se emocionaram com as músicas e que aquilo que fiz as tocou. Acho que por isso os efeitos do pós-show foram inebriantes: foi muito amor, muita energia boa, aliados à sensação incrível de ver um projeto finalizado.
Se pouco tempo depois eu já estava decidida a não fazer mais shows deste CD, foi por uma ótima razão. Foi porque entendi que já havia completado uma etapa e já podia falar sobre outros assuntos, mais meus. O ano que se seguiu, 2015, foi bastante focado na criação e na reflexão, e, mesmo que vivamos em uma sociedade onde (voltando ao assunto) produto é tudo e processo não é nada, foi um ano artisticamente importantíssimo, talvez o mais importante até agora. E só consegui ter este momento de criação e de me voltar para dentro de mim porque o Temperos já existia, e me fazia lembrar que eu era capaz de fazer muito, o que eu quisesse, na verdade.  Fosse gravar um CD e fazer um show lindo; fosse compor e cantar meu próprio discurso. 
Fica aqui o registro e o reconhecimento da importância de ter colocado meu bloco na rua; de ter feito, com medo mesmo, aquilo que deveria ser feito. Que bom que entendi, talvez inconscientemente, à época, que “aquilo que temos de aprender a fazer, aprendemos fazendo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário