Ultimamente,
quando alguém me pergunta o que tenho feito ("E aí? Cantando muito?"),
tenho dito sempre o mesmo: sim, tenho ensaiado bastante, e isso está me
deixando muito satisfeita. Mas essas palavras, ao vento, não fazem jus ao que
está acontecendo. Até mesmo porque trata-se de uma pergunta retórica, muitas
vezes, e não vem ao caso me alongar na hora.
Mas, para
quem mais quiser saber como andam as coisas e o que venho fazendo etc., tem
esse texto aqui – que precisava escrever para mim, de qualquer jeito.
O lance é:
venho fazendo um trabalho invisível. E, que incrível, há tempos não me sentia
tão bem artisticamente como agora.
E neste
momento, com este trabalho invisível, não há nada imediato. O processo é
tranquilo e tem seu tempo, e não há urgência em mostrar resultados. Há uma necessidade
de estar constantemente ensaiando e criando, mas estranhamente não há muita ansiedade,
nem angústia. Não há desespero em afirmar que se está em atividade. Porque há
aquela sensação inigualável de se estar fazendo o que tem de ser feito.
É engraçado
que quando trabalhamos com artes – em qualquer área das artes –, geralmente
queremos e precisamos falar sobre nossos trabalhos, ou melhor: precisamos
mostrar ações, resultados. E a cada incentivo, a cada compra de produto (CD, livro,
quadro), a cada pessoa que diz ali, na rede social, que se emocionou com algo
nosso, nos sentimos amparados. Sentimos que está tudo indo bem, que as coisas
estão seguindo como deveriam.
Acho que de
forma geral acabamos relacionando a felicidade de sermos artistas ao reconhecimento
de quem nos cerca, à aprovação de outras pessoas. O carinho de terceiros é
muito valioso para nós, e acaba tendo mais importância até do que o ato de –
por exemplo – sumirmos para o mundo, pensando no que estamos fazendo. Acaba,
lamentavelmente, sendo mais valiosa esta aprovação e legitimação de outrem do
que o ato de criarmos, sozinhos ou acompanhados (mas longe das atenções, dos
holofotes), sem qualquer registro em vídeo ou foto.
Este ano, em
abril, iniciei uma série de ensaios com o guitarrista Pedro Costa, e desde lá
coisas muito importantes vêm acontecendo comigo. Porque certamente este tempo
que estou tirando para investir em minhas músicas era algo que há tempos eu
precisava fazer; ou melhor: era algo que eu estava esperando que eu fizesse há
tempos.
Eu precisava
parar e me concentrar na minha criação e no que eu queria dizer musicalmente.
Sobre o que eu queria falar? A respeito de quê, exatamente, eu tinha/tenho
necessidade de me expressar? Que tipo de melodia quero fazer? Com qual tipo de
música eu me identifico para falar sobre este ou aquele assunto? Qual mensagem
quero passar para mim, e para quem mais quiser me ouvir? Que tipo de sonoridade
me traduz melhor? Quais palavras preciso pronunciar? Quais trechos de canções
deixei de lado e preciso retomar?
Fico
satisfeita em poder finalmente colocar em prática algo que precisava fazer há
tempos, e principalmente porque a falta disso era algo que estava me
frustrando. Faltava algo – e acho que sempre vai faltar, visto que somos feitos
dessa inquietação e vontade de evoluir – mas era uma falta que eu sabia que
existia e não queria resolver imediatamente. Protelei bastante (e ainda assim
penso que está acontecendo na hora certa), mas finalmente encarei. E lembro
como me senti no dia do primeiro ensaio. Fui à rua logo depois, participar de
uma performance, e uma sensação de libertação estava bem intensa dentro de mim.
Sensação de que agora, sim, estava começando a resolver o que tinha que ser
resolvido. Esta sensação me deu muita paz.
Mas acho que entendi que os momentos mais valiosos são esses do recolhimento e do pensar sobre si como artista. São esses da criação, de conseguir transformar em arte o que se está sentindo, o que se vê, o que se vive. Mostrar depois o que se criou é necessário e faz parte da ação artística – a ideia é comunicar, também –, mas o fato de gostarem ou não deveria ser só um detalhe. Quem tem que gostar, mesmo, somos nós. Tão difícil quanto libertador entender (e incorporar – algo que ainda não consegui fazer totalmente) que já é uma grande conquista gostar de si mesmo como artista.
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