Só
quis ser cantora em novembro de 2011. Antes, amava cantar. Era
cantora sem ser. Era tudo: atriz, tradutora, revisora, um dia, quem
sabe, dançarina, e cantava também. Mas não era cantora. Entende?
A
cantora, mesmo só surgiu em novembro de 2011, quando, ao lado de um
grande artista, um grande produtor e uma grande cantora senti uma
vontade verdadeira. E, que novidade: partia de mim, não de
terceiros. E nesta data, neste dia, começou um processo de ir
expulsando, aos poucos, a atriz, a tradutora, a revisora e a futura
dançarina. Essas foram saindo para dar lugar à cantora; essa, que
sempre foi a mais preterida de todas.
A
atriz sente saudades (quem sabe um dia?), a tradutora e a revisora
nem tanto. A dançarina quase não sente mágoa: nunca dei muita
moral para ela, mesmo.
Eu
sei, a tradutora e a revisora persistem, como ganha-pão, mas as duas
sabem muito bem, agora, que não têm a menor chance. Que o negócio
é outro. Sem ofensas, não dá para sonhar com um coisa e fazer
outra totalmente diferente - e ainda assim ser feliz. É impossível.
É lindo trabalhar com letras. Só não é o meu maior sonho. E
pode-se querer realizar algum sonho que não seja o maior? Pode-se,
desde que se realize o grandão também... Condição sine
qua non.
Ué,
mas você canta solo desde 2008. Ué, canta em coro desde 2006. Ué...
teve uma banda de rock por seis anos! De 2001 a 2007! Eeeeita!
Começou a cantar em 2000, aos 16 anos, em sua PRIMEIRA banda de
rock! Yuppie Ratt, lembra?
Então que diabos é isso? Você não quis ser cantora só agora, na beira dos 30...
Então que diabos é isso? Você não quis ser cantora só agora, na beira dos 30...
Sim,
é exatamente isso. Só agora. Vocalista, não. Coralista, não.
Backing vocal? Adoro ser backing de grandes artistas, sim, mas... Em
primeiro lugar, CANTORA. Sou, sim. Demorei a assumir, mas é o que
sou. E quem sou eu para ter vergonha disso? Quem sou eu para negar a
menina de três anos de idade (ou quatro?) que cantava empolgada,
segurando um lápis ou qualquer outra coisa que servisse
psicologicamente de microfone?
Que
coisa feia - e tão lugar-comum - é negar o que se tem. Feio deixar
de lado o que se tem de melhor. Feio deixar para lá porque é fácil.
Ora, se é fácil... Aperfeiçoe!
Seja
perfeita. Estude. Cante. Veja seus vídeos. Produza material. Grave
muito, muito e sempre. Só as melhores músicas, as que VOCÊ ama.
Estude o cavaquinho. Volte a estudar teoria e percepção. Volte a
escrever suas letras. Volte a compor suas canções simples. Comece a
querer mudar.
[Continuando
a falar em terceira pessoa, já que comecei] Mas nem tudo são
críticas: você anda bem mais atenta a seu figurino e à sua
maquiagem. Anda cantando melhor que nunca. Parabéns pelas aulas.
Parabéns pelo esforço. Você é boa. Só precisa se convencer disso
e não torcer para que a vida, "como sempre", te dê uma
rasteira e te deixe na mão, só para que você se sinta no direito
de reclamar. Só para que você possa ficar confortável em sua
situação de vítima, chorando e pensando no tempo que "perdeu"
com essa "história de ser cantora".
Se
você ama, assuma de uma vez. Mergulhe de cabeça.
Afinal,
aquela menina que cantava para a mãe canções inventadas, cujas
letras falavam de bolo de chocolate e outras delícias infantis,
encheu o saco de ser jogada de lado e quer sua atenção - mesmo que
só agora, 26 anos depois.
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