Posso dizer que não é algo
incomum isso de se sentir em crise – falando por mim. Ficar em dúvida, repensar
o que estou fazendo é algo constante. “Será que devo seguir por este ou por
aquele caminho?” Vivo cheia de perguntas, sempre, o tempo todo. E as respostas
até chegam, mas aos pouquinhos, nem aí para a ansiedade. Estas minhas várias
dúvidas, inclusive, viraram um post no dia 31 de dezembro, não por
acaso um dia do ano bem emblemático para todos.
Crises frequentes começaram a surgir
a partir de 2012 – não por coincidência, quando comecei a produção “pra valer” do
meu CD. “Estou fazendo a coisa certa?”, “sou tão inexperiente, será que...”, “devia
ter feito isso”, “não devia ter feito aquilo.” Atualmente, com o CD lançado há sete
meses e muita produção rolando, as crises continuam (“o que fazer a partir de
agora?”). Às vezes uma a cada duas semanas, às vezes duas crises ao dia. E não
há o que fazer a não ser lidar com elas. Crise nenhuma aparece sem motivo, e têm
um lado (muito) bom: nos obrigam a trabalhar algo que está sendo negligenciado;
algum aspecto de nossa vida/carreira que precisa ser resolvido. Lembro de ligar
para o Daniel, o produtor do disco, para conversarmos sobre alguma coisa e eu
dizer: “sim, está tudo bem, mas já entrei em crise algumas vezes nestes últimos
dias...”, e ele dar a lição valiosa: “Isso é bom, pois depois de toda a crise
vem a descoberta, a evolução”. É claro, é preciso ter coragem para colocar em
prática esta grande ideia/conclusão que a crise pode trazer. Nem sempre estamos
com estômago para uma nova batalha, uma nova empreitada, um novo caminho. Mas pode
ser de grande ajuda pensar que um caminho diferente (ou seguir persistindo no
mesmo caminho – persistência também é coragem) possivelmente trará grande felicidade
e realização pessoal..
Entrar em crise, viver em
dúvida, não saber o caminho, são coisas difíceis, mas comuns. Não acho que isso
seja um demérito, um problema, e nem me condeno por sempre vez ou outra ter
uma crise. Não acho que a incerteza seja um defeito. Mas acredito (ou melhor, por
incrível que pareça, disso, sim, tenho
certeza) que quando temos inseguranças e dúvidas, porém seguimos caminhando e
trabalhando, produzindo, tudo se acerta. O problema é ter dúvidas e crises e
estagnar em razão disso. Não acredito na estagnação: imobilidade é frustração.
Quando me mantenho em movimento, minha incerteza é aplacada, porque todos os
caminhos vão se abrindo. Porque mesmo não sabendo direito o que fazer, faço,
busco, investigo, escrevo, canto. Saio fazendo. Como dizem: há chances de que
aquilo que estamos planejando dê errado, mas colocar o plano em prática pode
resultar em algo ainda melhor do que aquilo que queríamos inicialmente.
Um exemplo: tomei recentemente a decisão
de não fazer mais shows do CD Temperos. Pode ser que esta decisão, 1º) não se concretize - eu não resista a fazer mais um show caso
role algum convite interessante; 2º) se concretize, e futuramente eu veja que esta
não foi uma boa decisão; 3º) se concretize, e futuramente eu veja que esta foi
uma decisão acertada. Enfim, não fazer mais o show Temperos tem muito a ver com um aspecto prático (shows são dispendiosos,
e quero ao menos tentar viver de forma menos irresponsável e mais autossustentável),
mas também tem a ver com um aspecto artístico: quero fazer outras coisas, diferentes do que já fiz. Parar por
aqui é ser responsável (financeiramente) e ao mesmo tempo ansiosa (o disco não
tem nem um ano de existência) – o que será que vou colher disso? Não sei. Mas sei que, caso venham
crises brabas por aí, a vantagem da experiência com estas danadas me dará a
segurança de poder pensar assim: “É só mais uma crise. Daqui a pouco passa.”
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