Fiz há poucos dias um show com um amigo. Uma vez que estávamos
produzindo o evento, ficamos encarregados de certas responsabilidades. Nós dois
decidimos montar o show juntos, portanto era função nossa organizar boa parte
das coisas.
Uma destas coisas era o pagamento dos músicos. Estávamos tocando
em um espaço da prefeitura, porém não havia cachê, nem cobrança de ingressos: tratava-se
de um show ao ar livre, no terraço do local.
Era importante, então, “passar o chapéu”. Era importante
conseguir grana para os músicos que estavam lá conosco, e era importante que não tivéssemos prejuízo financeiro (porque, caso não conseguíssemos o suficiente, teríamos que
completar o pagamento deles). Era importante, principalmente, que tudo aquilo fosse leve. Eu queria
um show que, além de sustentável, fosse gostoso antes, durante e depois. Queria
que todo mundo saísse feliz no final. Ninguém no prejuízo, ninguém recebendo
pouco depois de se disponibilizar a tirar músicas, ensaiar, passar som e
tocar por uma hora e meia. Justo.
Pela minha experiência de tocar na rua e lidar com plateias,
já sabia que não funcionava muito deixar um chapéu parado, esperando que o
público contribua. O fato é que as pessoas ficam tímidas de ir até o chapéu.
Algumas pessoas não o veem, simplesmente. Já outras não ficam assim tão empolgadas
em ajudar caso este não apareça ali, na frente delas.
Peguei o chapéu e comecei a passar pelo público. Várias
pessoas ajudaram. Várias já tinham ajudado, é verdade, mas a grande massa de
pessoas ali quis ajudar no momento em que viram a cantora da banda pedir ajuda,
segurando um chapéu, em uma atitude simples, um pedido de contribuição.
Saí feliz e satisfeita com o show, com minha atitude, com o
resultado. Ninguém saiu dali “no prejú”. E de quem é a culpa disso? Bem, foi
algo que eu disse no microfone, antes de passar o chapéu: “Depois que vi o show
do Tom Zé, não tenho mais medo dessas coisas”. E é verdade. Se o Tom Zé (que é
o Tom Zé) pede ajuda, se ele é humilde o suficiente para falar sobre seus CDs e
livros à venda durante o show, se chega a fazer música com este tema para
enfatizar esta necessidade... Quem sou eu para achar que não posso passar um
chapéu? Se eu achasse isso, estaria me achando superior ao TZ. E então teria
que fazer uma BOA autoanálise, certo? (É, o show deste cara de fato mudou muita
coisa dentro de mim, e esta antifrescurite foi mais uma delas.)
Mas a culpa também é da Amanda Palmer, com seu incrível
vídeo “The art of asking”, onde ela aborda o quanto é importante que o artista
saiba pedir ajuda e também que deixe que as pessoas ajudem, por livre e espontânea
vontade. É importante saber receber. É importante saber que esta atitude é uma
troca entre o artista e o público, e que isso os aproxima muito.
Pensei que não poderia jamais deixar passar a oportunidade
de incentivar que contribuíssem com nosso trabalho. Aquelas pessoas estavam
amando o show. Várias compraram nossos CDs. Elas queriam nosso contato, queriam
nos conhecer, bater papo. Por que eu me colocaria em um pedestal? Apenas para
fingir que não precisava da ajuda financeira do público? Precisava, sim, e
continuo precisando. (Aliás, quer comprar meu CD? Entre em contato.)
Estamos na época onde vários artistas conseguem gravar ou
fazer shows graças ao crowdfunding. E
isso mostrou o quanto o artista não pode mais dar uma de distante. Ele precisa
de seu público. E o público está adorando esta proximidade - eu, pelo menos, como
público de vários artistas, e como admiradora de vários projetos, adoro quando estas
pessoas de que sou fã vêm me pedir ajuda inbox. Acho isso de uma humildade
incrível, e amo esta proximidade que acontece. Não bastasse o crowdfunding estar revolucionando, no
sentido de estar possibilitando milhares de projetos, ainda está fissurando (em
alguns meios, é claro) este lamentável status de “inalcançável” onde o artista
muitas vezes se coloca.
Vamos trocar a arrogância/distância pela troca e pelo contato?
Todo mundo vai sair ganhando.
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