quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O som da moda

Lembro que certa vez comentei com alguém que queria fazer um show só de canções do Itamar Assumpção. Me alertaram que não o fizesse, e uma das razões foi esta: “Zélia Duncan já fez e tem a maior galera cantando as músicas dele. Antes ninguém queria saber do cara, agora está na moda...”
À época eu não sabia que a Zélia tinha este projeto cantando as canções do Nego Dito, mas é verdade que já tinha visto um vídeo da Simone Mazzer cantando “Parece que bebe”, bem como sabia que a Caixa preta do Itamar havia sido lançada em 2010.
Mas a pergunta que não quer calar é: será que este é um bom motivo para não fazer algo empolgante? Será que este é um bom motivo para deixar um projeto na gaveta? Dar um tempinho, e quando “sair da moda”, finalmente fazer (ou nunca mais fazer, já que você “chegou atrasado”)? Porque, dizem, não se deve fazer algo apenas porque todos estão fazendo, e concordo plenamente com esta afirmação. Mas será que é obrigatório não fazer algo, uma vez que muitos outros já estão fazendo aquilo?
Será que na vida a gente deve, sempre, tentar correr contra a corrente? E se a corrente for boa? Se for uma onda bem legal que invade as rádios, os hábitos, o cotidiano?
Seguindo o mesmo raciocínio, será que devemos deixar de usar a palavra “gratidão” porque está na moda? Será que devemos ter implicância com assuntos como feminismo, sustentabilidade, política etc. apenas porque estão em voga – mesmo que sejam importantes e benéficos? Pessoalmente, acho um ótimo sinal que assuntos deste naipe estejam na moda – vamos acabar sabendo ainda mais sobre eles, a discussão será aprofundada, e muita gente será beneficiada com estas informações. Torcer para que continuem no underground é egoísmo, síndrome de Danuza Leão: quando todo mundo faz (ou conhece), não tem mais graça.
Falando por mim, gosto do fato de Itamar estar muito mais visível e fácil de encontrar do que antes (eu sei – infelizmente ele ainda não está exatamente na moda). Em 2003 um dos chefes da loja de roupas em que eu trabalhava colocou um dos volumes do CD Bicho de sete cabeças para tocar, e amei, não poderia ser diferente. E ao mesmo tempo fiquei chocada ao constatar que eu nunca tinha ouvido falar naquele artista tão inovador. Que bom que hoje é bem mais fácil ser invadido por sua música – através de Zélia, Anelis, Simone Mazzer, Guidi (opa!)...
É incrível querer subverter, querer fazer diferente. Mas esta ânsia não é benéfica se ajuda apenas a limitar seus desejos. Penso assim: cante algo que ninguém gosta, e também cante algo que o mundo inteiro vai cantar junto, se esta for sua vontade. Faça o que te der na telha – o que te motiva é o mais importante. Orgulho é quase tão ruim quanto a vontade de fazer sucesso/agradar a qualquer custo.
Não sei se algum dia farei um show só de Itamar, e hoje sei que de fato aquela não era a hora (eu precisava focar na finalização do meu CD), mas quando lembro deste comentário que ouvi, penso: este não é um argumento bom. Podemos pensar na possibilidade de que talvez um assunto muito abordado acabe sendo maçante para o público e não gere muita empolgação. Claro, precisamos ser inteligentes e até estratégicos: timing é importante, mas não é importante a implicância com o fato de que "agora tal coisa está hypeada". Sim, coisas boas várias vezes ficam hypeadas, depois de um tempo. Que bom, pois elas merecem isso mesmo, não devem morrer obscuras.  
É legal lembrar que existe o inconsciente coletivo, e também a contaminação. Várias vezes temos ideias, não as colocamos em prática e logo alguém pinta fazendo o que queríamos fazer. Várias vezes fazemos, e concomitantemente outro alguém também faz. Várias vezes fazemos e descobrimos que já tem gente fazendo há muito mais tempo. Isso é ruim, necessariamente? Não acho. Talvez sirva para engrossar o caldo, e evidenciar que, sim, aquele é um assunto que definitivamente está pedindo para ser explorado. 

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