Lembro que
certa vez comentei com alguém que queria fazer um show só de canções do Itamar
Assumpção. Me alertaram que não o fizesse, e uma das razões foi esta: “Zélia
Duncan já fez e tem a maior galera cantando as músicas dele. Antes ninguém
queria saber do cara, agora está na moda...”
À época eu
não sabia que a Zélia tinha este projeto cantando as canções do Nego Dito, mas
é verdade que já tinha visto um vídeo da Simone Mazzer cantando “Parece que
bebe”, bem como sabia que a Caixa preta do Itamar havia sido
lançada em 2010.
Mas a
pergunta que não quer calar é: será que este é um bom motivo para não fazer
algo empolgante? Será que este é um bom motivo para deixar um projeto na
gaveta? Dar um tempinho, e quando “sair da moda”, finalmente fazer (ou nunca
mais fazer, já que você “chegou atrasado”)? Porque, dizem, não se deve fazer
algo apenas porque todos estão fazendo, e concordo plenamente com esta
afirmação. Mas será que é obrigatório não
fazer algo, uma vez que muitos outros já estão fazendo aquilo?
Será que na
vida a gente deve, sempre, tentar correr contra a corrente? E se a corrente for
boa? Se for uma onda bem legal que invade as rádios, os hábitos, o cotidiano?
Seguindo o
mesmo raciocínio, será que devemos deixar de usar a palavra “gratidão” porque
está na moda? Será que devemos ter implicância com assuntos como feminismo,
sustentabilidade, política etc. apenas porque estão em voga – mesmo que sejam
importantes e benéficos? Pessoalmente, acho um ótimo sinal que assuntos deste
naipe estejam na moda – vamos acabar sabendo ainda mais sobre eles, a discussão
será aprofundada, e muita gente será beneficiada com estas informações. Torcer
para que continuem no underground é egoísmo, síndrome de Danuza Leão: quando
todo mundo faz (ou conhece), não tem mais graça.
Falando por
mim, gosto do fato de Itamar estar muito mais visível e fácil de encontrar do
que antes (eu sei – infelizmente ele ainda não está exatamente na moda). Em
2003 um dos chefes da loja de roupas em que eu trabalhava colocou um dos
volumes do CD Bicho de sete cabeças para tocar, e amei, não poderia
ser diferente. E ao mesmo tempo fiquei chocada ao constatar que eu nunca tinha
ouvido falar naquele artista tão inovador. Que bom que hoje é bem mais fácil
ser invadido por sua música – através de Zélia, Anelis, Simone Mazzer, Guidi
(opa!)...
É incrível
querer subverter, querer fazer diferente. Mas esta ânsia não é benéfica se
ajuda apenas a limitar seus desejos. Penso assim: cante algo que ninguém gosta,
e também cante algo que o mundo inteiro vai cantar junto, se esta for sua
vontade. Faça o que te der na telha – o que te motiva é o mais importante.
Orgulho é quase tão ruim quanto a vontade de fazer sucesso/agradar a qualquer
custo.
Não sei se
algum dia farei um show só de Itamar, e hoje sei que de fato aquela não era a
hora (eu precisava focar na finalização do meu CD), mas quando lembro deste
comentário que ouvi, penso: este não é um argumento bom. Podemos pensar na
possibilidade de que talvez um assunto muito abordado acabe sendo maçante para
o público e não gere muita empolgação. Claro, precisamos ser inteligentes e até
estratégicos: timing é importante, mas não é importante a
implicância com o fato de que "agora tal coisa está hypeada". Sim,
coisas boas várias vezes ficam hypeadas, depois de um tempo. Que bom, pois elas
merecem isso mesmo, não devem morrer obscuras.
É legal lembrar que existe o inconsciente coletivo, e também a contaminação. Várias vezes temos ideias, não as colocamos em prática e logo alguém pinta fazendo o que queríamos fazer. Várias vezes fazemos, e concomitantemente outro alguém também faz. Várias vezes fazemos e descobrimos que já tem gente fazendo há muito mais tempo. Isso é ruim, necessariamente? Não acho. Talvez sirva para engrossar o caldo, e evidenciar que, sim, aquele é um assunto que definitivamente está pedindo para ser explorado.
É legal lembrar que existe o inconsciente coletivo, e também a contaminação. Várias vezes temos ideias, não as colocamos em prática e logo alguém pinta fazendo o que queríamos fazer. Várias vezes fazemos, e concomitantemente outro alguém também faz. Várias vezes fazemos e descobrimos que já tem gente fazendo há muito mais tempo. Isso é ruim, necessariamente? Não acho. Talvez sirva para engrossar o caldo, e evidenciar que, sim, aquele é um assunto que definitivamente está pedindo para ser explorado.
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