quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A tal da expectativa e as diferentes fases da vida

Momento 1: Estes dias terminei de ler o excelente livro Makaloba, de Edilson Martins. Diz ele, em certo momento: “O que dizima o encontro é a expectativa. As coisas vão acontecer onde não esperamos. Produziu, projetou, dançou. A viagem só existe (...) para todos aqueles que estão abertos ao encontro.”
Momento 2: Sábado passado fui ao show da Karina Buhr, de graça (oba!) na Cinelândia. Gostei muito do show, achei a apresentação incrível e tudo aquilo se comunicou muito comigo. Poderia dizer que entendi o recado, eu acho. Saquei o que aquela artista queria dizer; gostei do que ela disse.
O que o assunto “expectativa” tem a ver com o assunto “Karina Buhr”? Para mim, tudo.
Em 2010 fui ao show da Karina Buhr, no Teatro Rival, com meu namorado à época. Saímos antes do show terminar. Estava tarde, sim, e estávamos cansados, mas não foi esta a razão. Não estávamos gostando do show, mesmo. A única canção que chamou minha atenção foi “Vira pó”. E esta foi a única faixa que coloquei para ouvir, algumas poucas vezes, no meu aparelho de CD. Todo o resto do disco Eu menti pra você, que eu havia comprado no Rival, antes do show começar, não me agradava. Aliás, se eu tivesse deixado para comprar depois de ver o show, acabaria não comprando.
Ué, mas era a mesma artista. Tocando as mesmas músicas. Incluindo muitas outras novas canções, é verdade, mas interpretando também aquelas mesmas que eu havia visto há cinco anos, sem gostar, ou melhor, gostando apenas de uma. E aí? O que aconteceu?
Será que ela não estava inspirada naquela noite no Rival? Não, inspirada ela estava, com certeza, disso eu lembro bem – solta, inteira, 100% entregue. E a banda, ainda por cima, contava com Edgar Scandurra. Estava tudo nos trinques.
O que mudou de lá pra cá fui eu. Em 2010 eu queria bastante distância de sons pesados. Havia saído de uma banda de rock há não muito tempo (a banda havia acabado) e estava completamente apaixonada pela música brasileira. Cantando muito forró. Curtindo os ritmos brazucas, dançando os mesmos, afogada em brasilidade. E felizaça com isso.
E mesmo antes de mergulhar de cabeça na MPB, eu já amava o Comadre Fulozinha, banda que contava - ainda conta? - com Karina na voz, percussão, composição. Era uma coisa linda, e eu vivia ouvindo o CD (e ainda vou tocar “É ou não é” em um show). Fui a um show delas no CCBB, em 2008, que foi muito bom.
Então creio que foram duas as razões para não ter curtido, antes. Primeiro, eu estava com expectativas. Fui ao show do trabalho solo de Karina sem conhecê-lo, mas certa de que era um som à la Comadre. Não deu certo: a expectativa dizimou o encontro, como escreveu Edilson. Segundo, eu estava cansada de ouvir rock. Precisava conhecer melhor outros sons, me banhar em outras sonoridades. Era tempo demais em um estilo, queria outros. Aquela rápida visita à distorção, no show dela, não era o que eu estava querendo, à época.
Quando, neste sábado, meu atual namorado me convenceu a ir no show dela, fiquei com vontade de não ir, mas acabei indo porque já sabia o que me esperava, ou seja, estava preparada psicologicamente para aquele som que eu “com toda certeza” não ia curtir, de novo.
E ao chegar lá, adorei, e percebi que eu havia finalmente encontrado um equilíbrio. Acho que não tem mais essa de precisar dar um tempo deste estilo, ou daquele lá. Já dei o tempo que era preciso para descansar e conhecer outros mundos. Agora, vem ni mim rock, vem ni mim forró, vem ni mim bolero. Aceito tudo o que seja bom – taí um conceito bem relativo, mas não tem como usar outra palavra. Sem essa de dividir em times. Música pode ser boa (de novo esta palavra) de muitas formas. 
              (Outra coisa que me ajudou a repensar esta questão foi quando, em 2013, soube que em uma reunião para organizar um evento muito bacana, na rua, alguns ativistas queriam que o ato contasse apenas com maracatu, talvez por ser tipicamente brasileiro, e queriam vetar bandas de rock, talvez por não ser tipicamente brasileiro. Isso me ajudou muito a rever meus conceitos e preconceitos.)
 Foi bacana, também, perceber que Karina Buhr também tem duas vidas. Fez o som brasileirão, depois fez a mistura com rock, funk, pop. Saiu se permitindo, foi embora. Quebrou minhas expectativas, e talvez a de um monte de gente. Que só foi entender aquilo, ou se entender, algum tempo depois.  


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