Momento 1: Estes dias terminei
de ler o excelente livro Makaloba, de
Edilson Martins. Diz ele, em certo momento: “O que dizima o encontro é a
expectativa. As coisas vão acontecer onde não esperamos. Produziu, projetou,
dançou. A viagem só existe (...) para todos aqueles que estão abertos ao
encontro.”
Momento 2: Sábado passado fui
ao show da Karina Buhr, de graça (oba!) na Cinelândia. Gostei muito do show,
achei a apresentação incrível e tudo aquilo se comunicou muito comigo. Poderia
dizer que entendi o recado, eu acho. Saquei o que aquela artista queria dizer;
gostei do que ela disse.
O que o assunto “expectativa”
tem a ver com o assunto “Karina Buhr”? Para mim, tudo.
Em 2010 fui ao show da Karina
Buhr, no Teatro Rival, com meu namorado à época. Saímos antes do show terminar.
Estava tarde, sim, e estávamos cansados, mas não foi esta a razão. Não
estávamos gostando do show, mesmo. A única canção que chamou minha atenção foi “Vira
pó”. E esta foi a única faixa que coloquei para ouvir, algumas poucas vezes,
no meu aparelho de CD. Todo o resto do disco Eu menti pra você, que eu havia comprado no Rival, antes do show
começar, não me agradava. Aliás, se eu tivesse deixado para comprar depois de
ver o show, acabaria não comprando.
Ué, mas era a mesma artista.
Tocando as mesmas músicas. Incluindo muitas outras novas canções, é verdade, mas
interpretando também aquelas mesmas que eu havia visto há cinco anos, sem
gostar, ou melhor, gostando apenas de uma. E aí? O que aconteceu?
Será que ela não estava inspirada
naquela noite no Rival? Não, inspirada ela estava, com certeza, disso eu lembro
bem – solta, inteira, 100% entregue. E a banda, ainda por cima, contava com
Edgar Scandurra. Estava tudo nos trinques.
O que mudou de lá pra cá fui
eu. Em 2010 eu queria bastante distância de sons pesados. Havia saído de uma
banda de rock há não muito tempo (a banda havia acabado) e estava completamente
apaixonada pela música brasileira. Cantando muito forró. Curtindo os ritmos
brazucas, dançando os mesmos, afogada em brasilidade. E felizaça com isso.
E mesmo antes de mergulhar de cabeça
na MPB, eu já amava o Comadre Fulozinha, banda que contava - ainda conta? - com Karina na voz,
percussão, composição. Era uma coisa linda, e eu vivia ouvindo o CD (e ainda
vou tocar “É ou não é” em um show). Fui a um show delas no CCBB, em 2008, que
foi muito bom.
Então creio que foram duas as
razões para não ter curtido, antes. Primeiro, eu estava com expectativas. Fui
ao show do trabalho solo de Karina sem conhecê-lo, mas certa de que era um
som à la Comadre. Não deu certo: a
expectativa dizimou o encontro, como escreveu Edilson. Segundo, eu estava cansada
de ouvir rock. Precisava conhecer melhor outros sons, me banhar em outras
sonoridades. Era tempo demais em um estilo, queria outros. Aquela rápida visita
à distorção, no show dela, não era o que eu estava querendo, à época.
Quando, neste sábado, meu atual
namorado me convenceu a ir no show dela, fiquei com vontade de não ir, mas acabei
indo porque já sabia o que me esperava, ou seja, estava preparada
psicologicamente para aquele som que eu “com toda certeza” não ia curtir, de
novo.
E ao chegar lá, adorei, e
percebi que eu havia finalmente encontrado um equilíbrio. Acho que não tem mais
essa de precisar dar um tempo deste estilo, ou daquele lá. Já dei o tempo que
era preciso para descansar e conhecer outros mundos. Agora, vem ni mim rock, vem ni mim forró, vem ni
mim bolero. Aceito tudo o que seja bom – taí um conceito bem relativo, mas
não tem como usar outra palavra. Sem essa de dividir em times. Música pode ser
boa (de novo esta palavra) de muitas formas.
(Outra coisa que me ajudou a repensar esta questão foi quando, em 2013, soube que em uma reunião para organizar um evento muito bacana, na rua, alguns ativistas queriam que o ato contasse apenas com maracatu, talvez por ser tipicamente brasileiro, e queriam vetar bandas de rock, talvez por não ser tipicamente brasileiro. Isso me ajudou muito a rever meus conceitos e preconceitos.)
(Outra coisa que me ajudou a repensar esta questão foi quando, em 2013, soube que em uma reunião para organizar um evento muito bacana, na rua, alguns ativistas queriam que o ato contasse apenas com maracatu, talvez por ser tipicamente brasileiro, e queriam vetar bandas de rock, talvez por não ser tipicamente brasileiro. Isso me ajudou muito a rever meus conceitos e preconceitos.)
Foi bacana, também, perceber que Karina Buhr
também tem duas vidas. Fez o som brasileirão, depois fez a mistura com
rock, funk, pop. Saiu se permitindo, foi embora. Quebrou minhas expectativas, e
talvez a de um monte de gente. Que só foi entender aquilo, ou se
entender, algum tempo depois.
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