Existem
certas coisas que eu realmente apreciaria se nunca mais precisasse
enfrentar. Estas coisas, que citarei ao longo do texto, dependiam e
ainda dependem de mim, unicamente, e sei que só vivi estas cenas por
não me sentir suficientemente capaz de mudar minha situação, por
não me sentir senhora de mim. Infelizmente, fazer escolhas e tomar
decisões são coisas que dependem muito de sua autoconfiança. Não
dá para continuar levando a vida sem resolver esta grande questão
emocional e desejar que as coisas à sua volta funcionem
adequadamente - no trabalho ou em qualquer outra área.
Começarei
me questionando: será que já me sinto capaz de levar minha carreira
com firmeza - no melhor dos sentidos? Será que hoje já conseguiria
impor minha vontade em um trabalho (que é meu, afinal de contas),
sem medo de ser considerada chata? Será que conseguiria hoje não
ligar caso rissem de mim, apenas um "canário" querendo
complicar as coisas? Será que eu conseguiria, hoje, levar meu
trabalho da forma mais madura possível, isso é, me importando mais
com o resultado final do que com a opinião dos outros sobre mim,
sobre minha forma de trabalhar? Ou será que eu persistiria sendo
pouco exigente apenas para não "cansar" ninguém?
Será
que finalmente deixarei a pessoa perfeccionista que mora aqui dentro
sair e comandar, entendendo que, no final, todos sairão ganhando com
isso? Quem ouvir, quem tocar, e eu, principalmente - por me permitir
fazer exatamente da forma que quero?
Várias
vezes me senti a pessoa menos importante dentro de meu próprio
trabalho. Um misto de subserviência, vontade de agradar e
preocupação excessiva/tensão. Tudo isso vem de uma enorme
insegurança, é claro. De onde vem a insegurança, aí já é mais
complexo, mais tortuoso, questão que merece uma bela análise ou
boas doses de autoanálise diária/meditação etc.
Um
exemplo de um desgaste totalmente evitável: ficar preocupada com o
humor de algum músico. Por que não priorizar uma convivência com
alguém que não se estressa facilmente, alguém cujo humor
geralmente é bom, cujo trato é simples, dispensando não-me-toques?
Talvez porque eu sempre tenha pensado que a vida não é algo
controlável. Negativa, eu pensava que não era possível unir
eficiência com boa convivência. Antes tarde do que nunca, mas agora
sei que um instrumentista, caso seja muito bom, não é uma boa opção caso
seja problemático, não compensa, jamais, o estresse. E aprendi a a verdade
dura (e doce): podemos controlar nossas vidas, em vários aspectos. É
possível, em nosso dia a dia, fazer várias escolhas. Em nosso
trabalhos. Em nossas relações.
Por várias vezes, ao invés de me preocupar comigo, por vezes me senti um pouco babá, um pouco responsável pelo mau humor de alguma pessoa que tocava comigo, me desesperando internamente para que ele ficasse bem e a situação fluísse - show, entrevista, gravação. Afinal, na minha opinião, para se fazer música é preciso estar minimamente tranquilo, ou, caso se esteja mal, é preciso deixar o coração aberto para que a música cure, ou ajude a melhorar a tristeza/desânimo. E eu queria muito poder cantar em um ambiente harmônico, então me preocupava com o bem estar de todos, menos o meu. E nem funcionava, pois desespero para manter a harmonia é desarmonia garantida, mesmo que não aparente.
Por várias vezes, ao invés de me preocupar comigo, por vezes me senti um pouco babá, um pouco responsável pelo mau humor de alguma pessoa que tocava comigo, me desesperando internamente para que ele ficasse bem e a situação fluísse - show, entrevista, gravação. Afinal, na minha opinião, para se fazer música é preciso estar minimamente tranquilo, ou, caso se esteja mal, é preciso deixar o coração aberto para que a música cure, ou ajude a melhorar a tristeza/desânimo. E eu queria muito poder cantar em um ambiente harmônico, então me preocupava com o bem estar de todos, menos o meu. E nem funcionava, pois desespero para manter a harmonia é desarmonia garantida, mesmo que não aparente.
Existem
algumas coisas que não podemos controlar, como diz Dalai Lama - a
morte, os acidentes, as catástrofes. Apenas podemos aceitar e tentar
lidar da melhor forma possível com estas realidades. Mas tantas,
tantas outras coisas na vida dependem apenas de nossa escolha. E
seguimos achando que não, que não temos o poder de escolher as
pessoas que nos cercam. Existe a família, sem dúvidas, e esta não
podemos escolher. Mas e o resto das pessoas? O mundo inteiro não é
nosso núcleo familiar, oras! (Talvez devesse ser, mas no sentido
mais bonito de todos.)
Creio
que nós, cantores, precisamos cuidar muito bem de nossa autoestima.
Todos os seres humanos precisam, é claro, e nós não devemos
esquecer de cuidar com muito carinho dela. Uma boa demonstração de
cuidado consigo é: escolher com bastante cautela nossos parceiros.
Os instrumentistas que estarão conosco podem, sim, ser pessoas
agradáveis, que nos respeitam. Porque na verdade esta regra
(respeito) nunca deveria ser quebrada. Isso é básico demais.
O
ideal, mesmo, seria que os músicos/produtores/todos os envolvidos em
nossos trabalhos fossem parceiros, mas acredito totalmente na
convivência pacífica, mesmo que não muito calorosa. Não é
preciso haver uma relação de amizade, necessariamente. Mas é
preciso haver paz. Isso, hoje em dia, para mim é
pré-requisito para trabalhar.
Talvez
este texto esteja falando também sobre a autoestima dos
instrumentistas. Talvez esta pequena, média ou grande rixa entre
músicos que tocam e músicos que cantam, esta grande besteira
chamada competitividade, nada mais seja do que uma luta por
autoafirmação. E, para mim, a autoafirmação
constante/inconveniente/excessiva é a maior bandeira de alguém que,
internamente, não está nada firme sobre si.
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