segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Autoestima, boa convivência, escolhas

Existem certas coisas que eu realmente apreciaria se nunca mais precisasse enfrentar. Estas coisas, que citarei ao longo do texto, dependiam e ainda dependem de mim, unicamente, e sei que só vivi estas cenas por não me sentir suficientemente capaz de mudar minha situação, por não me sentir senhora de mim. Infelizmente, fazer escolhas e tomar decisões são coisas que dependem muito de sua autoconfiança. Não dá para continuar levando a vida sem resolver esta grande questão emocional e desejar que as coisas à sua volta funcionem adequadamente - no trabalho ou em qualquer outra área.
Começarei me questionando: será que já me sinto capaz de levar minha carreira com firmeza - no melhor dos sentidos? Será que hoje já conseguiria impor minha vontade em um trabalho (que é meu, afinal de contas), sem medo de ser considerada chata? Será que conseguiria hoje não ligar caso rissem de mim, apenas um "canário" querendo complicar as coisas? Será que eu conseguiria, hoje, levar meu trabalho da forma mais madura possível, isso é, me importando mais com o resultado final do que com a opinião dos outros sobre mim, sobre minha forma de trabalhar? Ou será que eu persistiria sendo pouco exigente apenas para não "cansar" ninguém?
Será que finalmente deixarei a pessoa perfeccionista que mora aqui dentro sair e comandar, entendendo que, no final, todos sairão ganhando com isso? Quem ouvir, quem tocar, e eu, principalmente - por me permitir fazer exatamente da forma que quero?
Várias vezes me senti a pessoa menos importante dentro de meu próprio trabalho. Um misto de subserviência, vontade de agradar e preocupação excessiva/tensão. Tudo isso vem de uma enorme insegurança, é claro. De onde vem a insegurança, aí já é mais complexo, mais tortuoso, questão que merece uma bela análise ou boas doses de autoanálise diária/meditação etc.
Um exemplo de um desgaste totalmente evitável: ficar preocupada com o humor de algum músico. Por que não priorizar uma convivência com alguém que não se estressa facilmente, alguém cujo humor geralmente é bom, cujo trato é simples, dispensando não-me-toques? Talvez porque eu sempre tenha pensado que a vida não é algo controlável. Negativa, eu pensava que não era possível unir eficiência com boa convivência. Antes tarde do que nunca, mas agora sei que um instrumentista, caso seja muito bom, não é uma boa opção caso seja problemático, não compensa, jamais, o estresse. E aprendi a a verdade dura (e doce): podemos controlar nossas vidas, em vários aspectos. É possível, em nosso dia a dia, fazer várias escolhas. Em nosso trabalhos. Em nossas relações.
             Por várias vezes, ao invés de me preocupar comigo, por vezes me senti um pouco babá, um pouco responsável pelo mau humor de alguma pessoa que tocava comigo, me desesperando internamente para que ele ficasse bem e a situação fluísse - show, entrevista, gravação. Afinal, na minha opinião, para se fazer música é preciso estar minimamente tranquilo, ou, caso se esteja mal, é preciso deixar o coração aberto para que a música cure, ou ajude a melhorar a tristeza/desânimo. E eu queria muito poder cantar em um ambiente harmônico, então me preocupava com o bem estar de todos, menos o meu. E nem funcionava, pois desespero para manter a harmonia é desarmonia garantida, mesmo que não aparente.
Existem algumas coisas que não podemos controlar, como diz Dalai Lama - a morte, os acidentes, as catástrofes. Apenas podemos aceitar e tentar lidar da melhor forma possível com estas realidades. Mas tantas, tantas outras coisas na vida dependem apenas de nossa escolha. E seguimos achando que não, que não temos o poder de escolher as pessoas que nos cercam. Existe a família, sem dúvidas, e esta não podemos escolher. Mas e o resto das pessoas? O mundo inteiro não é nosso núcleo familiar, oras! (Talvez devesse ser, mas no sentido mais bonito de todos.)
Creio que nós, cantores, precisamos cuidar muito bem de nossa autoestima. Todos os seres humanos precisam, é claro, e nós não devemos esquecer de cuidar com muito carinho dela. Uma boa demonstração de cuidado consigo é: escolher com bastante cautela nossos parceiros. Os instrumentistas que estarão conosco podem, sim, ser pessoas agradáveis, que nos respeitam. Porque na verdade esta regra (respeito) nunca deveria ser quebrada. Isso é básico demais.
O ideal, mesmo, seria que os músicos/produtores/todos os envolvidos em nossos trabalhos fossem parceiros, mas acredito totalmente na convivência pacífica, mesmo que não muito calorosa. Não é preciso haver uma relação de amizade, necessariamente. Mas é preciso haver paz. Isso, hoje em dia, para mim é pré-requisito para trabalhar.
Talvez este texto esteja falando também sobre a autoestima dos instrumentistas. Talvez esta pequena, média ou grande rixa entre músicos que tocam e músicos que cantam, esta grande besteira chamada competitividade, nada mais seja do que uma luta por autoafirmação. E, para mim, a autoafirmação constante/inconveniente/excessiva é a maior bandeira de alguém que, internamente, não está nada firme sobre si.

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